domingo, 13 de março de 2011

Formigas Mortas


Debaixo do meu travesseiro
O que querem?
Roubar meus sonhos?
Entrar na minha cabeça?
Estou leve como nunca estive
Livre
Descobrindo
Não tão lúcida o bastante
As formigas sim são lúcidas
Mas elas sempre estão debaixo dos meus sonhos...
Dezenas delas, todas as manhas do meu sol

Sol Silveira - 10/01/09

Crespíssimas, os Pés atrevidos


A caminho da sábia senhora dos becos, o sol surgiu ensolarado e quente sob os olhares silenciosos da grande Serra Dourada. Ao chegar os pés ansiosos correram e ficaram nús, deitaram logo sobre a terra histórica. Queria ouvir seus gritos e ecos, degustar seu cheiro.

As Crespíssimas, correram dos pés aos braços, cochicharam nos seus ouvidos, foram esmagadas pelos pés e depois num circulo surdo começaram a percorrer enlouquecida pelas costas, ombros e pescoços.

No escuro se ouvia com maior claridade o quanto os pássaros estavam inspirados e afinados naquela manhã.O vento discreto acariciava calmamente o medo. Os pés inseguros não queriam sair do lugar.

De repente as vozes invadiram o túnel azul escuro e inquieto. As vozes corriam em várias direções, elas traziam esperança e conforto, dava segurança aos pés trêmulos e desesperados.

Sol Silveira - 2010


“Eles dançam...” responde o braço esquerdo ao direito.
Ahh esses Pés! Resmunga o braço direito.
 
Na dobra da rua passa a Maria Fumaça rasgando o tempo, ao som dela na sala de estar os pés dançam e riem. Brincam com as uvas espalhadas no chão.
Daqui de dentro eu ouço todos os sons e ruídos, diz o taco da madeira apressado.
O Tic-Tac do relógio central anuncia o grande espetáculo: A gangorra humana!
Pés e Braços prontos inspiram e expiram profundamente. Os braços sorriem mesmo com a ausência da música.
Inicia-se então a grande ópera dos pés! Contraídos e se libertando com o último fôlego de ar. Os braços querem voar mais alto, eles gritam e expulsam todo o som de sua existência.
Juntos pés e braços caminham em direção ao foco.
Grotowski se levanta, pega seu chapéu preto e sai em silêncio.

Sol Silveira - 2010 

segunda-feira, 7 de março de 2011


Um ponto
Cor
Sabor
Cheiro
Lembrança
Experiência
Sensações
Cada um tem sua própria janela,
A janela da alma...
Que pode estar aberta, fechada, confusa, entreaberta
Cada ponto tem sua vista
Um momento
Devemos abrir a porta para o olhar
Permitir-se
Sentir-se
Explorar-se


sexta-feira, 4 de março de 2011

Ahhhhhhhhhhhhhhh

O grito sufocado na garganta adormece o corpo.
Asfixia a alma 
Pobre empalidecida
rota
maltrapilha
Corpo imóvel, triste e calado
Pensamentos incontroláveis
Voz trêmula
Grito mudo, 
Muda?
Nada...
Continua lento, rápido, feroz, esfomeado, rangendo os dentes
Alho, cebola, tomates, manjericão...
Vai?
Ainda não!

Sol Silveira - 04/03/11

Pedras no caminho

Pedras,
Pedrinhas,
Contadoras de historias,
fofoqueiras,
mexeriqueiras,
Lavadeiras cantarolantes,
Nos seus becos sussurram baixinho seus desejos
Serra Dourada envolvente e sabichona, sabe todos seus segredos, enquanto a lua cheia do alto, delirante, sorri e chora.
Silencio, Silencio! Ela está no quintal!
Fazendo doces?
Não.
Ah! Ela tá lá, acalmando seu jardim!


Poesia: Sol Silveira - 04/03/11
Foto: Sol Silveira - 2007